• "Um blog do cacete!" - Folha de São Paulo

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    sexta-feira, setembro 30

    Encontros imediatos no primeiro degrau.

    Quem diria que um dia voltava a ver Raquel? Fiquei parado e pouco lhe falei. Há quanto tempo não te via! Julguei até já ter estancado a hemorragia, mas ao que eu vejo o tempo não passou. Como era bom contar-te o que eu sentia, mas vejo que a conversa vai ficar para outro dia: por ora só me sai "Raquel".

    Ornatos Violeta - Raquel

    Do Rasganço.

    Tenho pensado cada vez mais na problemática do Rasganço. Sou finalista na Universidade de Coimbra, e estou à espera que saia a minha - espero que - última nota, pelo que já me começam a perguntar se vou fazer Rasganço quando me formar. Embora esta seja uma pergunta automática, perguntada com o mesmo interesse que se pergunta

    Então, essas férias?

    aos colegas no fim da época estival, sempre que a ouço fico a matutar no papel do Rasganço na tradição académica coimbrã.
    Toda a gente sabe que em Coimbra a Universidade e o espírito académico tomam uma dimensão diferente do resto do país. A cidade cresceu devido à Universidade, e esta desde cedo influenciou a economia e a política no município, bem como a cultura local. Existe portanto em Coimbra uma forte tradição académica, explicada por anos de história e ligada a uma altura da vida que deixa saudades. Dessa tradição derivam códigos e regras de conduta para os estudantes, festas como a Latada e a Queima das Fitas, muita bebedeira e claro, a praxe.
    Jovial ou ridícula, toda a praxe tem um propósito, uma razão de existir. Mascarar os caloiros e fazê-los passar as passas do Algarve é um ritual que, quer se ache este argumento decrépito quer não, realmente ajuda as pessoas a conhecerem-se num ambiente de festa, fazendo-se mesmo grandes amizades nessas alturas. O cortejo da Queima, a festa académica mais badalada, é uma festa municipal como tantas outras que existem pelo país, sendo que nesta as famílias e amigos da terra (antigamente, mais do que agora, a maioria da massa estudantil era de fora de Coimbra) vêm ver o estudante quase licenciado no seu ambiente de festa. A Latada, ou festa de recepção ao caloiro, é isso mesmo, uma festa em que o estudante noviço é o alvo de todas as atenções e nesse dia conhece imensa gente e uma parte típica da cidade, devido ao percurso efectuado pelas ruas. Enfim, existem bastantes pormenores ainda, como as serenatas na Sé Velha, o traçar da capa, a queima do grelo, a assinatura das fitas, etc. Toda uma aura de picuinhices ligadas ao percurso universitário que têm piada e que apenas fazem sentido em Coimbra.
    Mas o referido percurso universitário termina com o Rasganço, e é aqui que a porca torce o rabo. O Rasganço funciona da seguinte maneira: quando um estudante acaba o curso, combina copos com os seus amigos que lhe rasgam o traje académico por completo, deixando apenas e por vezes a gravata e os punhos. No caso das estudantes-fêmea, é-lhes permitido manter alguns farrapos, ficando na maioria dos casos a ver-se apenas o soutien. O finalista, completamente etilizado, é então solicitado de uma forma curiosa. Completamente nu, corre atrás da capa do traje que os seus também ébrios amigos lhe negam, fugindo e colocando a capa em lugares de difícil acesso, como no cimo de estátuas ou dentro de um autocarro em movimento.
    Ora, o que eu tenho vindo a dizer é que todo o aspecto da tradição académica de Coimbra tem uma razão de ser. Mas por mais que dê voltas à cabeça, não consigo entender a necessidade que quase todo o estudante finalista sente de ser humilhado quando devia era estar orgulhoso. Rasgam-lhe o traje porquê, porque não vai mais precisar dele? Mas Coimbra toda ela é saudade e nostalgia, porque não guardar a roupa que tanto valor sentimental tem na altura do fim do curso? Ela nem é propriamente barata! E a nudez da maioria dos estudantes universitários, que passaram os últimos cinco ou mais anos a beber cerveja e a cozinhar inexperientemente para eles próprios é algo que - acreditem - é preferível não ver. E ainda há a questão das fotografias dos rasganços. A maioria delas é tirada de noite, obviamente, com flash, pelo que o resultado é uma imagem de um corpo branquíssimo numa posição estranha, com um cu cheio de borbulhas e uma cara de alcoólico, e tudo o resto à volta extremamente escuro, onde se se olhar com atenção consegue distinguir-se uma cara amiga. Portanto, depois desta bela festa divertida, fica-se com fotografias lindas para recordação!
    Resumindo: acaba-se o curso, é-se um adultozinho, e está-se todo bêbedo e todo nu a correr atrás de um trapo com uma mão esticada e outra a tapar a genitália, com todos os nossos amigos a rir à nossa volta. Acho que não é de estranhar que eu não queria fazer isso, apesar de defender fervorosamente todos os aspectos da tradição académica. E como eu pensam uns quantos. Não muitos, mas é suficiente para fazer quorum. O Rasganço é um aspecto da tradição que está tão decalcado como qualquer outro, pelo que é difícil abjurá-lo isoladamente. É um bocado como não ver o CSI. Toda a gente vê, sentimo-nos mal. Descobrimos alguém que também não vê, sentimo-nos melhor. Por isso, quando sou abordado - como tem acontecido com frequência ultimamente - com a pergunta

    Vais fazer Rasganço?

    eu fico um bocado hesitante, a pensar que mais valia que me tivessem perguntado

    Viste o CSI ontem?

    ou

    Então, essas férias?

    porque a intenção simpática com que se fazem essas perguntas é exactamente a mesma, mas eu não gosto de admitir que não quero que me vejam nu. Para além de que para ver a minha genitália é necessário trabalho e mérito. Não é assim à papo-seco.

    quinta-feira, setembro 22

    Sei

    onde tu estás.

    Ainda sobre aquela história das moscas. Não sejam chatinhos.

    Dizem-me a bolacha e a rhhu que a explicação científica do fenómeno "saco de água afasta as moscas" se prende com a imagem que as moscas percepcionam. Que as moscas se vêem ampliadas, que a luz refractada do saco de água as faz ver repetido e em grande, e mais não sei quê. E a fazer fé no que a bolacha diz, o saco de água pendurado funciona, efectivamente. Bom, se for esse o caso, até eu ficaria assustado ao ver imensas moscas gigantes. Mas tudo isto levanta uma nova questão, que, a meu ver, não será tão fácil de responder: Quem terá sido o génio (partindo do princípio que o povo já usava esta solução antes de saber a sua explicação científica, como muitas vezes acontece) que, farto de ter moscas a esvoaçar em casa, se insurgiu e disse

    Que diabo de mosquedo! Tenho uma ideia: vou pendurar um saco de água à porta de casa!

    fazendo as moscas tomar a decisão de procurar cagalhões onde pousar.

    Ai escrevo posts sem piada? Então toma.

    Sei

    de uma camponesa.

    quarta-feira, setembro 21

    Algo que sempre me intrigou. Desde há duas semanas a esta parte.

    Já ouviram falar desta técnica popular bizarra para evitar que as moscas, insecto assaz incómodo, entrem dentro de nossos lares? Consta que, para afastar o mosquedo, basta pendurar um saco transparente, cheio de água, à porta de casa. A questão que surge à percentagem mais inteligente da população, aquela à qual vocês não pertencem, é a seguinte: Será que este método resulta? Eu cá não encontro nenhum cenário lógico para que isso resulte, a não ser aquele em que a mosca, ao ver o saco com água, diz às outras

    Que diabo, um saco de água! É melhor não entrarmos!

    acabando por fazer o grupo tomar a decisão de procurar cagalhões onde pousar.

    sábado, setembro 17

    O lobo (era disto que eu lia quando era pequeno).

    Delfina olhou o lobo bem nos olhos.
    - Oiça lá, lobo, tinha-me esquecido do Capuchinho Vermelho. Vamos lá então falar dele, está bem?
    O lobo baixou a cabeça humildemente. Não contava com aquela. Ouviram-no fungar através da vidraça.
    - É verdade - confessou ele. - Comi o Capuchinho Vermelho. Mas garanto-vos que já tive bastantes remorsos. Se pudesse voltar atrás...
    - Pois sim! Diz-se sempre isso.
    O lobo bateu com a pata no peito e disse num tom grave:
    - Palavra que se pudesse voltar atrás preferia morrer de fome.
    - Seja como for - suspirou a mais loira -, você comeu o Capuchinho Vermelho.
    - Não digo que não - admitiu o lobo. - Comi, pronto. Mas foi um pecado de juventude. Já foi há tanto tempo, não é assim? Não se deve negar o perdão, por maior que seja a culpa... Além disso, se soubessem os problemas que tive por causa dessa menina! Olhem, até chegaram a dizer que eu tinha começado por comer a avó, o que não é verdade...
    Aqui, o lobo não se conteve e pôs-se a rir, provavelmente sem reparar que estava a rir.
    - Ora vejam só! Comer uma avó quando tinha uma menina bem apetitosa para o almoço! Não sou assim tão estúpido...

    in Contos do Gato no Poleiro, Marcel Aymé

    sexta-feira, setembro 16

    E neste blog deve ler-se em último também.

    Dizem as regras da escrita que o título deve escrever-se em último.

    Sim, Bono, eu sei.

    O bom de algo que destrua a ordem que atribuímos às nossas coisas, como desarrumarmos um móvel à procura de algo, é encontrarmos aquele objecto que não víamos há muito tempo. Algo simples, como um elástico de cabelo.

    E ainda não encontrei aquilo de que ando à procura.

    quarta-feira, setembro 14

    Não falemos do máximo.

    Como ainda não devem ter reparado porque ninguém lê isto - a avaliar pelas visitas que este blog tem vindo a ter -, tenho andado afastado da escrita. Isto dos blogs é muito bonito, mas há alturas em que a vida nos chama

    ó pxtó

    para andarmos com ela para a frente, nomeadamente estudar para os últimos exames do curso. Se a vida vai andar para a frente só saberei daqui a uns tempos, portanto por agora estou, como dizer, a coçá-los. E é aí que vocês entram, no papel de leitores do meu blog e de números impessoais no meu contador. Vou ver se recomeço a escrever, por isso acho bem que vocês leiam. É o mínimo.

    domingo, setembro 4

    A paixão segundo Laerte.


    por Laerte, in Chiclete com Banana, n.º 10. O melhor resumo do amor jamais concebido. E logo por um brasileiro!