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    quarta-feira, junho 15

    O segredo de todas as grandes superfícies comerciais é o mesmo das strippers: está tudo no teasing.

    Apesar de os meus leitores não se destacarem propriamente pela sua perspicácia, como eu estou farto de saber, de certeza que também já repararam numa das pérolas do pequeno comércio, que reflecte o respeito que os portugueses têm ao dinheiro, ao acto de desembolsar e à conjuntura da crise em geral. Falo, claro está, dos comerciantes que omitem a unidade monetária após dizerem a quantia que o cliente deverá pagar para se dar por concluída a venda. Como tudo na vida, isto perceber-se-á melhor através de um exemplo prático:

    "Ora então são 2 litros de leite... Uma dúzia de ovos... Mais a frutinha, o cereal e o detergente... São quinze e noventa."

    Este é um bom exemplo. Dá vontade de responder

    "Liras italianas? Aqui tem. Olhe, julgava que ia ser mais caro, veja lá."

    O problema dos pequenos comerciantes é, ao contrário das grandes superfícies comerciais, partilharem os problemas do cliente, nomeadamente a crise. A crise chega aos pequenos de todo o lado. O vendedor, ciente dos problemas do consumidor, omite os "euros" numa atitude cúmplice de respeito e sacerdócio, tendo plena consciência que o seu freguês fugirá a sete pés se for confrontado com o grande desrespeito pelo custo de vida que é tratar o dinheiro por tu. Desta forma, qualquer compra de víveres numa mercearia se reveste da aura do mais ilegal negócio do mercado negro. Fala-se em "trinta e dois e meio" e evita-se o sacrilégio permitindo que o numerário se confunda com uma quantidade de outra coisa qualquer. No fundo, se virmos bem, é óbvio que isto aconteça no nosso país, se nos lembrarmos da tendência que o português tem de fugir com o rabo à seringa. "Longe da vista, longe do coração" é o lema dos comerciantes. Se o cliente não ouvir dizer "euros", pode muito bem distrair-se e pensar que está a pagar com feijões.

    O mesmo já não se passa nas grandes superfícies. A displicência com que nos atiram com um

    "São cinquenta e dois euros e vinte e sete cêntimos",

    obscenamente explícito, adicionada à quantia geralmente mais elevada que aí se larga, faz o cliente sentir-se violado, maltratado e desprovido da sua hombridade. Prontamente arrota a quantia exigida, sentindo-se saciado mas humilhado, como se tivesse recorrido à prostituição.

    O português deve ser vilipendiado porque "quanto mais me bates mais gosto de ti". Pode comparar-se o comércio tradicional à esposa e o hipermercado à jovem amante, que levará sempre a melhor com produtos novos, modernos e brilhantes que o homem paga com o orgulho. É assim óbvio o porquê da crise no pequeno comércio. Por isso, quando forem ao Continente e a empregada vos atacar com um

    "São cinquenta e dois euros e vinte e sete cêntimos",

    respondam à letra:

    "Se fosses mesmo fina, cobravas em dólares."

    E eu garanto-vos que, por momentos, vão sentir-se uns machos.

    Comentários a "O segredo de todas as grandes superfícies comerciais é o mesmo das strippers: está tudo no teasing."

     

    Anonymous Anónimo disse ... (8:33 da tarde) : 

    acho que há aqui alguém que anda obcecado com esse assunto de prostituição, e já vê prostitutas onde nao há... pareces o cesário verde, a deambular pelas ruas de lisboa e a ver pernas e braços onde só há um cesto de legumes..

    ok desculpa la o disparate, essa cena dos exames anda me a dar a volta a cabeça

    da freshmaka

     

    Anonymous Anónimo disse ... (3:26 da manhã) : 

    Concordo perfeitamente. Só acrescento a problemática da golpada comercial dos Xeurs e 99Cêntimos! Porque é que em vez de, por exemplo, 499eur e 99Cêntimos os gajos não dizem "Sim pá a televisão custa 500eurs! Não percebeste? 100 continhos oh tótó! Sim somos chulos e a nossa casa orgulha-se disso! Vais-me dizer que é por 1 Cêntimo que não a levas?! Não sejas parvo pá! Lembra-te que, no tempo do escudo, o gajo que disse que 1 escudo era 1 escudo está preso!"

    Eau Rouge

     

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