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    sábado, outubro 1

    Blues on the road to Felgueiras



    felga, s. f. torrão de terra; balbúrdia.

    -eira, sufixo nominal representativo de coleçcão, aglomeração, conjunto.

    No dia 21 de Setembro de 2005 às 20:04, o noticiário da SIC exibiu uma peça jornalística que, na minha opinião de bom observador, se tornará, com o devido tempo necessário a essas coisas, um clássico do jornalismo nacional. A excelente reportagem mostrava o exterior do tribunal de Felgueiras, onde dezenas de habitantes da localidade demonstravam o seu apoio à conhecida autarca homónima, que havia chegado pouco antes ao tribunal, após ter sido detida aquando do seu regresso do Brasil. A turba indignada expunha a sua solidariedade para com Fátima Felgueiras de forma pacífica, sem violência, ouvindo-se apenas e esporadicamente alguns gritos de ordem. A repórter solicita a opinião a um cidadão, que devolve o seguinte, num simpático sotaque do norte interior:

    - A partir do dia 11 é q'eu fico contente, o tribunal dizer é assim ou não é assim. Agora isto que bemos aqui é tudo uma palhaçada, porque ela, ela, ela - gagueja - ela nunca habia de ter fugido. Como presidenta duma Câmara, nunca habia de ter fugido.

    Nisto, levantam-se as vozes dos populares que assistiam a esta declaração. O discurso do homem é abafado pelos gritos crescentes dos cidadãos circundantes, e começa a ser empurrado por várias pessoas. Impotente, ainda diz "Calma", mostrando as palmas das mãos aos agressores num gesto apaziguador. A certa altura, emerge da massa felgueirense (mas emerge mesmo, não se sabe de onde veio) um homem cuja atitude e discurso se destacam dos do resto dos manifestantes. Furioso, atira ao primeiro entrevistado:

    - Não sabes dizer nada, pá! - diz algo que não consigo destrinçar mesmo após sucessivas visualizações das imagens em questão - Seu burro, pá! Burro, pá! Seu burro, seu filha da puta!

    Enquanto este cidadão eloquente proferia estas palavras, o povo ia empurrando o primeiro homem dali para fora. A reportagem acaba com algumas palavras insípidas da repórter, como acontece na maioria dos casos.
    Esta peça de jornalismo é a demonstração matemática do lugar-comum "na cama que fizeste te hás-de deitar". Um eleitorado que, após o que se passou com Fátima Felgueiras, renega desta maneira uma opinião tão sensata quanto a deste senhor entrevistado, merece não só a autarca que tem (porque eu não duvido que a irá ter durante mais alguns anos), como também a sua toponímia.

    Comentários a "Blues on the road to Felgueiras"

     

    Blogger Raquel Úria disse ... (11:06 da tarde) : 

    Andas a escrever bem, pá.

     

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