O lobo (era disto que eu lia quando era pequeno).
Delfina olhou o lobo bem nos olhos. - Oiça lá, lobo, tinha-me esquecido do Capuchinho Vermelho. Vamos lá então falar dele, está bem? O lobo baixou a cabeça humildemente. Não contava com aquela. Ouviram-no fungar através da vidraça. - É verdade - confessou ele. - Comi o Capuchinho Vermelho. Mas garanto-vos que já tive bastantes remorsos. Se pudesse voltar atrás... - Pois sim! Diz-se sempre isso. O lobo bateu com a pata no peito e disse num tom grave: - Palavra que se pudesse voltar atrás preferia morrer de fome. - Seja como for - suspirou a mais loira -, você comeu o Capuchinho Vermelho. - Não digo que não - admitiu o lobo. - Comi, pronto. Mas foi um pecado de juventude. Já foi há tanto tempo, não é assim? Não se deve negar o perdão, por maior que seja a culpa... Além disso, se soubessem os problemas que tive por causa dessa menina! Olhem, até chegaram a dizer que eu tinha começado por comer a avó, o que não é verdade... Aqui, o lobo não se conteve e pôs-se a rir, provavelmente sem reparar que estava a rir. - Ora vejam só! Comer uma avó quando tinha uma menina bem apetitosa para o almoço! Não sou assim tão estúpido... in Contos do Gato no Poleiro, Marcel Aymé |
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