Agora esquece, não adianta, vou-me embora. Não esfregues os olhos, não comeces a chorar, não te abraces a mim, não me encharques o ombro de lágrimas que o casaco é novo e estraga-se. É irónico chorares logo no ombro onde penduro a mochila que contém o que preciso para viver longe, mas apesar de ser irónico é o braço que está ligado a esse ombro que te abraça debilmente. O outro braço não abraça porque tem na ponta uma mala com um saxofone lá dentro. Sim, é isso, acho que não é não querer que me esfregues os olhos, não é não querer que me abraces, não é não querer que chores, escolhe o ombro à vontade, que interessa o casaco, que se lixe o casaco. Não me podes é pedir que te abrace com força com as duas mão porque tenho o saxofone na ponta de uma delas. Não é por não saber o que fazer quando tudo por dentro de nós está corroído. É um cliché dizer que é um cancro mas na verdade é mesmo de um cancro que se trata e agora é tarde, devias ter pensado nisso antes, esquece, não adianta, vou-me embora. Não me importo que chores aí nesse ombro que pela parte que me toca nem é meu, é de um sujeito qualquer que neste momento sabe melhor do que eu o que é o perdão. E não só não é perdão aquilo que mereces como também não é perdão aquilo que devo fazer. Não sei o que mereces (achas que eu alguma vez soube alguma coisa?), mas sei que o que devia fazer era, no mínimo, retribuir o abraço. É por isso que é uma pena eu ter a mala do saxofone na mão: é que as pessoas às vezes não sabem mas é um instrumento delicado e não se pode pousar assim no chão de qualquer maneira. |
Comentários a "Achas que eu alguma vez soube alguma coisa?"
Apetece-me dizer, como os Mesa, "já te expliquei noutra canção".
;D
Três sugestões:
1) Escreve;
2) Escreve;
3) Escreve.
P.S. 4) Mostra-nos o que escreves!
Não sabia que o casaco era novo.
quando morreres, onde vais deixar o saxofone?
Jinhos ;*