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    quarta-feira, julho 5

    Achei isto necessário porque gosto de Alanis Morissette.

    E para meter conversa eu pergunto:
    - Então e que som é que tens aí no mp3?
    - Ah, é um CD de um grupo, não deves conhecer...
    Acabo a conversa por aqui e, como é meu apanágio, fecho-me no sótão da minha própria cabeça e vasculho-o à procura do sentimento mais adequado a esta resposta. Encontro-o logo. Era óbvio que o ia encontrar com facilidade, só quando preciso mesmo dele é que não sei onde está: intransigência. Devia tirá-la daqui mais vezes, está cheia de pó.
    Penso logo na aturada pesquisa que este meu interlocutor terá feito para encontrar uma banda com música suficientemente a seu gosto para a conseguir ouvir e, ao mesmo tempo, suficientemente desconhecida para se poder sair com esta tirada, tão vulgar nos dias que correm. O raciocínio que de certeza que usou foi o já bafiento

    1. Música é cultura.
    2. Se eu conhecer uma banda que pouca gente conhece é sinal que procurei o bastante no mundo musical para encontrar uma coisa "rara".
    3. Logo, o meu conhecimento musical (e cultural, ver premissa 1) é muito vasto.

    e é por isso que espano um bocado a intransigência, ainda que sem sair do sótão. O busílis, a meu ver, é que a música é um aspecto da cultura que chega a qualquer pessoa, pelo que para se ser erudito é preciso encontrar algo que ninguém ainda conheça. Um manancial deste tipo de lógica são aqueles que não dizem que gostam de música comercial. Eu cá acho que há música comercial boa. Senão, vejamos:

    1. Definição de "fazer música": combinar sons de forma a produzir um efeito agradável ao ouvido.
    2. A estrutura do ouvido e do cérebro do ser humano, bem como a interpretação dos sons como sendo agradáveis, por muito que varie com as preferências individuais, é quase igual em todas as pessoas. É nisso que toda a teoria musical se baseia, até o tão vosso conhecido dó-ré-mi-fá-sol-lá-si-dó.
    3. Portanto, há músicas que, por serem simples, agradam a imensa gente.
    4. A música que agrada a muita gente é comprada por muita gente (música comercial).
    5. Logo, a música comercial cumpre a função de "fazer música".

    Não percebo o horror que as pessoas têm à música comercial. Há música comercial óptima, com óptimos intérpretes. Não é preciso ninguém esconder-se atrás de um Não deves conhecer para dizer que gosta de free jazz. O free jazz foi criado através de um experimentalismo por parte de músicos, e ainda é uma linguagem que só é entendida por alguns. Mas isto é só um exemplo. Quem gosta de música, ouve-a, e não precisa de ser um melómano.
    Pessoalmente, valorizo muito a opinião de uma pessoa que diz gostar dos Hot Hot Heat ou dos Zita Swoon sabendo que ela conhece, de trás para a frente, a discografia dos Beatles e gosta de uma ou outra do Robbie Williams. Porque essa pessoa ouve música com atenção.
    Daí que não tenha querido fazer o meu interlocutor cair na dura realidade. Afinal, gostos não se discutem, mesmo que sejam os dos outros, e muito menos se os gostos dos outros forem os de terceiros.

    E volto a pôr tudo no sítio porque não se pode aqui com o pó.

    Comentários a "Achei isto necessário porque gosto de Alanis Morissette."

     

    Anonymous Anónimo disse ... (2:08 da manhã) : 

    Pois, mas tu só ouves música de merda.

     

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