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    quinta-feira, novembro 10

    O que lhe caiu foram os colhões, foi o que foi.

    Quando René Goscinny morreu, deixou órfãos os seus mais famosos heróis: Lucky Luke e Astérix. É notório o decréscimo de qualidade no argumento e no texto das aventuras destes dois desde que Goscinny partiu. Lucky Luke passou por vários argumentistas, um verdadeiro bordel deles, e nenhum conseguiu fazer justiça ao génio original. Mas tudo bem, o cowboy solitário continuou a disparar mais rápido do que a própria sombra, e não é sobre ele que quero falar. Já as aventuras de Astérix passaram a ser comandadas por Uderzo. Este senhor, com bastante talento para o desenho mas com um notório atraso cerebral, decidiu produzir e realizar A Rosa e o Gládio, o primeiro fascículo do gaulês publicado após a morte de Goscinny. Já aí se percebia que Astérix nunca mais seria o mesmo. Notava-se uma certa "esquisitice" nos textos, no desenrolar da acção e mesmo nas passagens entre quadradinhos. Mas, mais uma vez, tudo estava bem: nunca poderíamos exigir que as coisas fossem iguais sem o dedo de Goscinny.

    E assim foram passando os anos e Astérix não saiu de cena, mantendo a sua popularidade.

    Até que se publicou este livro da imagem. O céu cai-lhe em cima da cabeça. Vi-o pela primeira vez num escaparate do Continente, e decidi folheá-lo. O título só de si é imbecil. Cai-lhe? Li as primeiras páginas e soltei uma caralhada qualquer. Digamos que, em linhas gerais, a aldeia gaulesa é visitada por seres extreterrestres, do planeta Wendalsity, que viajam numa nave espacial esférica. Aparecem também alienígenas de um outro planeta, Gnama, e anda tudo ao pêro e é uma salganhada e é a pior coisa que já vi na vida.

    Extraterrestres no Astérix? Mas que merda é esta???

    A incoerência com o resto da série destruiu uma das partes mais bonitas da minha infância, que era aquela em que, nos Natais, ficava a ler estes livros ignorando a minha família e só parando para comer bacalhau e chocolates.

    Ao que parece, este álbum é uma tentativa de homenagear o mundo da BD, existindo anagramas de Walt Disney (o planeta Wendalsity) e de Manga (Gnama), que são os melhorezitos que se conseguiu fazer com estas palavras, o que reveste o livro de uma ingenuidade infantil e referências forçadas a ícones da BD. É horrível. Logo na segunda ou na terceira página aparecem os extraterrestres, que paralisaram todos os habitantes da aldeia excepto aqueles que, por acaso, não beberam poção mágica. Isto já não é novo: desde que Uderzo se apoderou da série que existem novos efeitos mágicos da poção mágica, como acontece n'O Pesadelo de Obélix em que a poção mágica transforma pessoas em estátuas de pedra. E, se a subtileza e originalidade dos textos se perdeu em parte com a partida de Goscinny, agora já não resta nada do Astérix original. Apenas uma aldeia de gauleses prostituídos à força por um chulo desenhista.

    O céu cai-lhe em cima da cabeça... Claro que nada disto vai fazer com que as pessoas parem de ler os volumes da série. Mas os antigos! Com os novos, Uderzo faz o mesmo que diziam de Amália: não soube quando parar.

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