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    quarta-feira, dezembro 14

    A garagem do vizinho.

    Como tenho andado bastante ocupado - e aproveito desde para justificar a minha ausência -, tenho tido que acordar cedo, por isso as obras da casa aqui do lado não me fazem diferença. Mas há uns tempos atrás, eu acordava bastante tarde, e o meu sono matinal era destruído por completo pelo ruído da construção adjacente, causado por máquinas e ferros e essas coisas que fazem barulho nas obras. É que aqui ao lado está a ser erigida uma vivenda. O proprietário é um homem que já foi meu professor na faculdade, e era daqueles que leva a camisola ao contrário para as aulas com a etiqueta a sair por baixo do queixo como uma segunda língua com instruções e temperaturas de lavagem e com as calças bem cintadas nos sovacos e por isso era gozado por nós e todos apanhávamos seca nas aulas e eu chumbei mas depois tive 12.
    Até aqui tudo estaria peachy keen se para além de não me ter tirado manhãs de sono, o senhor fosse uma pessoa decidida. Isto porque apesar do meu futuro vizinho ser professor da área de geotecnia e fundações de uma engenharia, a sua nova casa não o deixar adivinhar a não ser que estejamos a falar do muro de suporte enorme que ele tem por trás da casa do qual ele deve gostar tanto que até fez umas escadas de acesso à pequena área que sobrou entre o dito muro e a casa, área essa que não serve para nada a não ser para quando alguem perguntar onde é que aquilo vai dar ele poder responder Isso é para a adega.
    Nessa escadaria o meu vizinho tinha construído um muro que acompanhava os degraus, mas após este estar concluído ele decidiu que não gostava dele, pelo que durante dois dias mandou um pedreiro com um martelo pneumático quebrar aquilo tudo para se poder fazer como ele queria, porque Afinal fica melhor assim, e eu perder sono e paciência com aquele barulho todo. Poder-se-ia pensar que um engenheiro e professor de engenharia tivesse alguma, sei lá, capacidade para ver estas coisas antes de estarem construídas mas posso afirmar que não é o caso do meu vizinho.
    Depois, como a casa é grande demais para o terreno, o professor decidiu que a piscina que tanto insiste em ter, porque Afinal de contas não matei ninguém, será construída no telhado da garagem que por acaso fica colada ao lado da minha casa e como é mais alta que o nosso muro então agora temos dois muros de alturas diferentes.
    E quando começaram a surgir as janelas reparei num pormenor importante, que é o das janelas estarem viradas para as traseiras da casa dele e da nossa que mais não têm que o muro de suporte enorme, enquanto que uma fachada frontal que dá para a rua e até tem uma boa vista - e agradável - sobre a cidade, não possui uma única janela. O professor preferiu uma vista para a nossa cozinha e o nosso estendal, está no seu direito, estamos num país livre e é para estas coisas que serviu o 25 de Abril, para isto e para comprar cravos para pôr nas coisas e para se verem senhores velhos na televisão a dizer que as gerações novas não sabem o que é o 25 de Abril e que não existe consciência política nem coesão estudantil como naquele tempo, em que segundo o que os boatos contam, um estudante universitário com barbicha podia dizer

    E ao senhor só lhe falta a barba

    quando um professor o desafiava dizendo

    Ao senhor para ser chibo só lhe faltam os cornos

    porque nessa altura as pessoas deviam ser, sei lá, estúpidas a este ponto como eu sei que o meu novo vizinho é.

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