Já escrevi posts bem mais pequenos sobre coisas bem mais importantes, mas no fundo isto é uma experiência marcante.

Aqueles de vocês mais sortudos que ainda não passaram pela experiência de rebocar o carro devido a uma avaria são uns verdadeiros meninos. Como eu ainda era hoje de manhã. E o facto de eu falar em "hoje de manhã" não é, por bizarro que pareça, fruto do acaso, uma vez que o meu carro foi mesmo rebocado hoje de manhã. Uma falha no alternador resistiu aos empurrões e às bocas de crocodilo, e lá tive que chamar o dito reboque. Mal sabia eu que o regabofe ainda estava a começar. Telefonei para a central e pedi um reboque para a Estrada da Beira, no sentido Coimbra - Ceira, mesmo depois de Ceira. A central comunicou com o condutor que me telefonou passados vinte minutos. T = 20 minutos Quando atendi, o condutor perguntou-me indicações para chegar de Seia até ao local da avaria. O facto de eu ter referido Coimbra e a Estrada da Beira não impediu a central de confundir Ceira com Seia, pelo que prontamente se dispuseram a mandar-me um reboque da Serra da Estrela. "Então mas... Vou demorar que tempos a chegar aí!" Corrigi o engano, concluindo que, para a assistência em viagem, dizer-se que se está mesmo a seguir a Ceira é igual a dizer-se que se está em Portugal. O telefonema demorou aproximadamente dois minutos. T = 20 + 2 = 22 minutos Ao fim de dez minutos telefonam-me da central a informar-me da correcção do erro, após a qual transferiram a minha chamada para um novo condutor, este já bastante mais próximo (geograficamente, mas não espiritualmente, como adiante se verá). Dou-lhe as coordenadas. Este telefonema, mais demorado, somou cinco minutos. T = 22 + 5 = 27 minutos Esperei, portanto. Ao fim de trinta minutos vejo um veículo a ostentar a efígie "Pronto Socorro". Saio do carro, faço sinal ao condutor e este pergunta-me se tinha sido eu o senhor com quem ele tinha falado há bocado. Respondo afirmativamente e ele arranca, presumi eu, para fazer inversão de marcha, uma vez que vinha no sentido oposto àquele em que eu estava. Fui-me entretendo na conversa e ao fim de três quartos de hora ainda não tinha regressado. T = 27 + 45 = 72 minutos = 1 hora e 12 minutos Ligo para a central e pergunto o que se passa. Eles transferem a chamada para o condutor, que me diz, visivelmente agastado, que já passou duas vezes pelo local das coordenadas que lhe dei e não me tinha visto. Estranhei, uma vez que eu tinha falado com ele e, apesar de ser uma pessoa discreta, tinha a certeza de que ele se lembraria de voltar ao sítio onde estava aquilo que ele tinha vindo buscar. Retorqui usando esse argumento, e desfez-se o segundo engano. Eu tinha falado com outro condutor qualquer. Nisto gastei mais cinco minutos. T = 72 + 5 = 77 minutos = 1 hora e 17 minutos Esperei que ele voltasse ao local, coisa que aconteceu depressa. O homem não vinha com cara de bons amigos porque, segundo o que ele disse, teve que acabar de almoçar a pressa para me vir buscar. Depois de pôr o carro em cima do reboque tinham passado mais dez minutos. T = 77 + 10 = 87 minutos = 1 hora e 27 minutos Na viagem que se seguiu, todas as tentativas de encetar conversa com o condutor saíram frustradas, porque para além da indisposição que decerto lhe causei devido ao jejum forçado eu não primo lá muito pela simpatia. Deixou-me no local que lhe indiquei e seguiu com o meu carro para a oficina. Devo confessar que quase verti uma lágrima. Não por causa do carro, que dava pena ver em cima do reboque, mas por causa da hora e meia que perdi. É que essa, amanhã, não ma vão dar de volta, novinha em folha.