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    quinta-feira, dezembro 23

    Fábula de Natal

    Era uma vez um menino muito pobre que não tinha pai nem mãe. O menino muito pobre que não tinha pai nem mãe vivia de caridade, pedindo pelas ruas de dia e recolhendo à Casa do Gaiato de noite. Vestia trapos e passava fome, mas todos os dias conseguia pedir dinheiro suficiente para guardar, porque queria poupar para poder frequentar a escola e um dia ser um grande médico. Com a sua coragem, conseguia suportar os tormentos de ganhar dinheiro suado e de estudar muito e fazer os trabalhos de casa todos. Mas o que lhe custava mesmo era o Inverno, sobretudo a altura do Natal. Via todos os outros meninos a reunirem-se com toda a família e a receberem imensas predas, coisa que ele não sabia como era. E chorava sempre na noite de Natal.
    Um dia, na noite de Natal, enquanto ele chorava, profundamente desgosto com a sua vida, ouviu uma voz chamar por ele. Ergueu a cabeça e viu um anjo pairando sobre a sua cama feita de mantas de retalhos. Assustado, perguntou, exugando as lágrimas:
    - Quem és tu?
    - Eu sou o anjo do Natal - respondeu o anjo. - Estou aqui para te consolar. Porque choras? - A voz do anjo era calma e amiga, inspirando confiança, e o menino muito pobre que não tinha pai nem mãe sentiu-se mais à vontade.
    - Choro porque não gosto do Natal. Não tenho família e nunca recebo prendas - disse ele, baixando a cabeça.
    O anjo aproximou-se dele, flutuando no ar, pôs-lhe a mão no ombro e disse:
    - Tu és um menino muito corajoso e trabalhador. Continua a ser assim dedicado e verás que um dia te tornarás um grande médico famoso e curarás muitas pessoas. Terás a tua própria família e poderás dar aos outros muitas prendas, descobrindo que dar é prazer maior que receber. Agora dorme, petiz, e não te deixes abalar agora porque sabes que serás feliz um dia.
    Os olhos do menino muito pobre que não tinha pai nem mãe encheram-se de esperança e os seus lábios atrapalharam-se num sorriso tímido.
    - Obrigado, anjo do Natal, e adeus! - disse, enquanto o anjo começava a desaparecer no ar acenando com a mão.
    Nessa noite, o menino muito pobre que não tinha pai nem mãe dormiu como uma pedra, e durante os tempos que se seguiram trabalhou como nunca: não recusava uma tarefa que apenas lhe rendesse alguns tostões, estudava com afinco e ia pedir caridade sempre que tinha tempo livre. Nunca o tinham visto assim tão ocupado e empenhado, e durante muito tempo foi essa a sua atitude.
    Com o passar dos anos, o menino muito pobre que não tinha pai nem mãe cresceu, tornando-se num belo e inteligente rapaz. Com muito esforço, conseguiu notas que lhe garantiram uma média de 19 valores para poder entrar em Medicina na universidade. E conseguiu mesmo entrar no seu curso de sonho.
    Mas o que o rapaz muito pobre que não tinha pai nem mãe não sabia era que o dinheiro que tinha poupado durante todos aqueles anos nunca iria chegar para pagar propinas durante 6 anos, fora os da especialidade. Com efeito, após dois anos de frequência da licenciatura o seu dinheiro acabou. O rapaz muito pobre que não tinha pai nem mãe viu-se obrigado a desistir e a arranjar um emprego medíocre, e agora passa o Natal no Centro Recreativo e Cultural do seu bairro a jogar dominó com os velhos. E ainda por cima gozam com ele quando fala, com visível rancor, de um anjo do Natal que lhe apareceu quando era criança e que, segundo ele, era "um cabrão do caralho".

    Comentários a "Fábula de Natal"

     

    Blogger bolacha disse ... (2:14 da manhã) : 

    que pena. pensei que no fim ele fosse com o pai natal e o coelhinho da páscoa no comboio ao circo :p

     

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